o “poema V” faz parte do livro “Cabaret” de 1933, inserto em “Poesia I”
#stayhome
esboço do agostinho
a fotografia o esboço.

torreira; agostinho canhoto; 2013
o tempo escrito no grito
os amigos estão para além
da imagem que deles fizemos
são muito mais que uma foto
nela apenas o que deles vemos
sentimos julgamos saber
o agostinho é o pescador
é todos os que têm casa no mar
que a terra é perigosa
o agostinho é o agostinho
a foto é apenas um pouco dele
ou melhor é ele dentro de mim
nada mais que um esboço
depois da obra
assim
assim

praia da claridade; figueira da foz; 2008
assim
em silêncio
deitas o olhar
na areia
adormeces o mar

praia da claridade; figueira da foz; 2008
gente da torreira
durante muitos anos, e mais alguns espero, fotografei as gentes da torreira: no mar, na ria, nas ruas
há um amigo que gosta de das fotos fazer filmes, com as minhas fotos, e de outros também, e … fez mais este.
fica mais uma memória, mais uma viagem no tempo, que muitos tempos aqui estão.
obrigado a todos os que me deixaram fotografá-los e que sabem que nunca o fiz com outra intenção se não deixar a memória de um tempo e levar até mais longe, aos familiares emigrados, as imagens da terra e da família que tiveram de deixar.
um grande abraço do vosso amigo
os moliceiros têm vela (407)
pergunta ao mestre

torreira; mestre zé rito; 2018
foram aprendizes nos estaleiros
dos mestres serviram
tudo fizeram que mandado fosse
não lêem os sofisticados desenhos
que vieram mais tarde
contar dos barcos a estrutura o ser
usam moldes e paus de pontos
saberes herdados na aprendizagem
não sabes o que são
pergunta ao mestre
poucos restam das antigas escolas
diria que uma mão de dedos cheia
basta para dizer quantos
por isso cada moliceiro fala do mestre
em silêncio
ou no símbolo que no leme o significa
não sabes o que é calafetar
pergunta ao mestre
memória_14052011
mãos de pescador

torreira; 2006
há quem olhe para os carros, outros para a marca da roupa, outros para os rostos …. outros devoram com os olhos o que não comem
todos buscam o mesmo: conhecer
eu olho para as mãos e sei que aqui, aqui, encontro tudo.
as mãos do pescadores são rudes, gretadas, feridas, mas extremamente limpas.
são mãos que o mar lava e areia esfrega.
são mãos de trabalho, mãos de homens e mulheres que trazem nelas a história de uma vida, de um amor, de uma guerra, de uma faina,….
de uma gana de ganhar a vida no mar
“Considerações políticas sobre a beleza da mulher” de joao habitualmente
“Considerações políticas sobre a beleza da mulher” faz parte do livro “poemas físicos da frente para a retaguarda na curva interior da estrada”
postais da ria (357)
sentar os amigos à mesa

torreira; safar redes; 2019
sentar os amigos à mesa
da palavra
matar a fome de estórias
costume português este
o da mesa e nela nos juntarmos
para no repasto sermos
quantas mesas se vergaram
ao peso das ideias
ao longo da nossa história
quantas palavras
voaram por cima de toalhas
e foram alimento
sentar os amigos à mesa
apenas isso
viver para esse momento
crónicas da xávega (348)
ainda estou aqui

torreira; ti alfredo fareja; 2005
escondi numa gaveta
todas as palavras difíceis
escrevi então as coisas simples
onde habita o sentir
a memória os amigos o tempo
entraram pelas palavras
como coisa sua
simples
perguntaram por mim
e com as suas palavras lhes respondi
ainda estou aqui

torreira; ti alfredo fareja; 2005
a beleza do sal (83)
amanhecerá

ilha da morraceira; enfeitar; 2019
será manhã quando for
não antecipes o amanhecer
chegaremos caminhantes e serenos
com o sol nas mãos
e amanhecerá