depois de largar e alar
safar peixe se houver
há que safar e arrumar as redes
são muitas as horas
para tão pouco ganho
falo da solheira
depois de largar e alar
safar peixe se houver
há que safar e arrumar as redes
são muitas as horas
para tão pouco ganho
falo da solheira
depois de largar e alar
safar peixe se houver
há que safar e arrumar as redes
são muitas as horas
para tão pouco ganho
falo da solheira
o ser do sal
(regresso às salinas
à beleza do sal)
achegar_romão (pai)
trabalham no talho
com o ugalho
rêem achegam
encabeçam enfeitam
na mesa o sal
nada disto te conta
dos homens
do labor do sol em brasa
do ser do sal
que sabes?
(armazéns de lavos; julho, 2017)
depois de largar e alar
safar peixe se houver
há que safar e arrumar as redes
são muitas as horas
para tão pouco ganho
falo da solheira
dúvida
a linda e o trovão cirandam ameijoa, sem qualquer dúvida
as palavras saram
as feridas do silêncio
ou
será o contrário
(torreira; 2016)
o primeiro registo é um excerto do colóquio “A INFORMAÇÃO NA ERA DA PÓS-VERDADE – O ADMIRÁVEL MUNDO DAS NOTÍCIAS FALSAS”, que decorreu no auditório municipal da figueira da foz, no dia 11 de junho de 2017, com a presença do vereador/escritor antónio tavares e os jornalistas fátima felgueiras, bruno paixão e josé manuel portugal.
procurei, ao fazer este excerto, não adulterar o contexto em que se inseriu a minha intervenção, em defesa das redes sociais, por forma a não entrar na era da pós-verdade – coisa que ainda haverá que esclarecer o que é.
o colóquio na sua totalidade poderá ser visionado no vídeo “notícias falsas” publicado em seguida.
ahcravo gorim
notícias falsas e as redes sociais
A INFORMAÇÃO NA ERA DA PÓS-VERDADE – O ADMIRÁVEL MUNDO DAS NOTÍCIAS FALSAS”
O referendo sobre o ‘Brexit’ no Reino Unido e a eleição presidencial nos Estados Unidos estão na origem da escolha da palavra do ano 2016.
O termo ‘pós-verdade’ foi escolhido como a palavra do ano 2016 pelos dicionários britânicos Oxford, vocábulo que surge no contexto do ‘Brexit’ (saída britânica da União Europeia) ou da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Segundo a definição dos dicionários Oxford, pós-verdade (‘post-truth’ em inglês) é um adjetivo que faz referência a “circunstâncias em que os factos objetivos têm menos influência na formação de opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais”.
Para ser mencionada nesta prestigiada instituição, a palavra deve ter sido utilizada em jornais ou em títulos literários por um período mínimo de 10 anos.
o caminhar
arribam as mangas
o caminhar
tudo te desvendará
por vezes será doloroso
segue sempre pelo lado do sol
rente à cal tudo se desenha
saberás então
se apenas sombra o homem
no pão a sardinha escorre
também a verdade no tempo
(torreira)
1. ouvi o barulho da serra. levantei-me. vesti-me. peguei na máquina. aproximei-me e comecei a fotografar. que não podia. que tinha de sair. que me tiravam a máquina. semblantes carregados. rostos fechados. cercas encerradas de imediato.
afinal, só estavam a abater 3 árvores. só isso. porquê o medo? porquê? o que é que estava a fazer?
2. voltei mais tarde. de longe. equipado. fica o registo
3.
a ordem
o homem
a mão
a serra
a ferida
o esticão
a morte
as árvores
dormem nas nuvens
os homens
quando acordarão?
a memória
o carregar do saco seco na zorra
a memória escreve-se
na areia e vai com o vento
não há malhas que a prendam
e tudo flui somando-se dias aos dias
assim sempre mesmo já quando
saber-lhes os nomes hoje ainda
é mistério que não entendo
aceito
como aceitarei
o não os saber
sei que o tempo
corre numa praia
por onde passo
e já tanto passei
olho tudo com a sensação
de que estive onde estive
sempre de corpo inteiro
assim como não estarei
(torreira; 2016)
aqui onde me vês
cresci para as nuvens
e para a terra
sou mais que ninguém
d’aqui
não tenho pernas
tenho raízes fundas
que me prendem
não tenho corpo
tenho tronco que te abriga
não tenho braços nem dedos
tenho ramos e folhas
que te fazem sombra
e te protegem da chuva mansa
não falo
não reclamo
não grito
espero que tu
que tens pernas braços dedos
e voz sejas agora
o que eu para ti fui
o abrigo
a defesa
o amigo
aqui
na rua joaquim sottomayor
onde marcaram quatro irmãs
para serem abatidas
não os deixes
(figueira da foz; 21 de julho, 2017)