2016 foi o último ano que fotografei o mar da torreira, é da ordem natural das coisas haver um princípio e um fim em tudo.
do primeiro ano não me lembro, mas o último sei que foi 2016.
o vídeo que hoje publico representa o momento mais alto de muitos anos passados na praia da torreira. em 2006 publiquei-o, gravei-o em dvd, projectei-o no clube marítimo da torreira, no salão, que se encheu para o ver e ouvir os poemas que consegui dizer. não esqueço a presença do ti manel murta que, de muletas, demorou cerca de uma hora desde sua casa até ao salão, para ver o filme.
devo muito a muitos e continuo a considerar-me mais um, entre aqueles a quem trato pelo nome e me merecem o maior respeito.
10 anos depois dessa exibição e mais de 30 depois de ter tirado algumas das fotos que nele podem ser vistas, é este o momento de o divulgar mais amplamente. é o momento de abraçar quem durante tantos anos me abraçou.
não esqueço, não esquecerei nunca que os meus antepassados foram homens de mar, pescadores da xávega da torreira e da ria de aveiro.
os amigos que em 2006 compraram o filme que não me levem mal, mas o que sei hoje na altura não sabia. de qualquer modo o vídeo que possuem em dvd é mais completo que este.
é gente da torreira que, viva ou não, aqui fica. são pedaços de vida, da minha também, que ficarão durante algum tempo, nada é eterno e o tempo é sempre escasso, ao dispôr dos que um dia quiserem saber como era e dos que se quiserem lembrar dos seus tempos de juventude.
em especial ao meu arrais, joão da calada, e a todos um abraço amigo do cravo.
a fotografia, a tradição, a memória e os interesses
a limpidez da memória no registo do momento
não há nada pior que um povo sem história, não é povo sequer. e o que é a história senão o somatório das memórias preservadas?
a fotografia é, desde que surgiu, mais um instrumento de construção da história, porque produtora de memória, com a relevância de ser um registo visual e de impacto.
desdenhar da fotografia é desdenhar da história e da memória. é desdenhar do povo e da sua cultura.
sujar o campo visual da reconstrução da memória é sujar a memória do registo intemporal, quem dera, do momento.
entendam agora porque sou contra o acompanhamento da “regata da ria” por praticantes de kite surf: sujam a memória, impedem o registo limpo de um tempo recuperado.
virá o tempo em que perguntarão porque se estragaram momentos tão belos. mas será tarde para impedir a ganância de alguns, a ignorância de outros, a falta de cultura de muitos e a indiferença da maioria.
poderíamos cantar aqui, assim: assim se desfaz portugal!