
morraceira, rer, 2016

morraceira, rer, 2016
nós

não há geografia
que mate os afectos
impossível desatar
nós ancestrais
entrego-me nas mãos
do tempo e sou
(torreira; 2010)
olhares cegos

será negra a noite
mas nela encontrarás luz
suficiente
entre noite e noite
muitas cores povoarão
o dia e o teu registo
mas
a cor do dinheiro
ficou esquecida
nos teus postais
olha como quem vê
não como quem ignora
(torreira; safar redes; 2016)
lembrando joaquim namorado
fraca gente
escondem o rosto
o dizerem-se
quantos por detrás
nunca se sabe
muitos o silêncio
encobrir pode
na ânsia de insultar
rebaixam o nome
da terra das gentes
deixam como vermes
rasto peçonhento
fraca gente esta
vontade de a sacudir
como a areia das redes

o sacudir do saco
(torreira; 2015)
nascido na década de 40 do século XX na murtosa, onde viveu, francisco faustino é testemunha de um tempo que urge preservar.
veio ao mundo junto à ria e é descendente de gentes do mar, a sua vida profissional e o exercício pleno e permanente da cidadania, aliados a uma memória invejável e uma capacidade invejável de comunicação, tornam-no uma fonte de saber que não se esgota nas conversas que ficam registadas nos 4 vídeos.
o que destas conversas mais fica é o muito que haverá por saber e registar.
falar com o chico é um prazer e uma lição. isso aprendi
de 4 horas de conversa, ou melhor, de lição, este é o último registo.
tão só

durante anos
registou as vozes
do vento
quando morreu
abriram o livro
as folhas voaram
um sopro de vento
tão só

(torreira; regata s. paio; 2018)
desde que publiquei no meu blog o artigo sobre a notícia dada pelo jornal “Concelho da Murtosa”, no passado dia 23, a propósito do meu livro, têm-se sucedido, no blog, comentários estranhos, primeiro por “maria murtosa”, depois por “augusto vinheirão”, ambos feitos a partir do mesmo computador ou do mesmo local. agora chegou a vez do vice-presidente da câmara municipal da murtosa, na publicação de dia 5 de outubro que, por mera curiosidade, é ilustrada com uma foto da praia de mira.
transcrevo o comentário feito no blog, não porque me cause qualquer mossa, mas porque mostra bem o nível de quem o produz, ao mesmo tempo que demonstra ignorar, tal como o jornal já citado, a minha forma de estar.
“O meu gosto pela fotografia, leva-me a tê-lo na maior conta. Para que possa ter aceitação no meio Murtoseiro, devia deixar de ser o Vasco Pulido Valente do ramo da fotografia e da poesia; ou seja, no seu íntimo, só o Senhor é que sabe fotografar e mais ninguém na terra marinhôa devia fazer fotografia.
De resto, as portas da Galeria Municipal, estão abertas e no aniversário da freguesia da Torreira e do Concelho da Murtosa, está convidado a expor o seu trabalho.”
assinado : Januário Cunha, email : januario.cunha@cm-murtosa.pt

ao utilizar o endereço de email da câmara municipal, deixou de comentar como particular, para o passar a fazer a nível oficial – lembram-se do tempo das cartas? uma carta particular era enviada em envelope normal, uma carta oficial em envelope timbrado da instituição. no email é o mesmo. por outro lado o último parágrafo do comentário só pode ser escrito por alguém com lugar no executivo.
em tudo o que escreve o senhor vice-presidente da câmara municipal da murtosa, a única coisa que ressalta como pura falsidade para quem me conhece é “…. no seu íntimo, só o Senhor é que sabe fotografar e mais ninguém na terra marinhôa devia fazer fotografia.”. não fora esta afirmação e nem resposta lhe daria. mas há limites para o silêncio.
e jorge bacelar, campeão do mundo de fotografia, e tantos dos sócios da associação de fotografia e artes visuais da murtosa (afavm) de que o sr. vice-presidente é sócio, e os não associados? fotógrafos de méritos reconhecidos e cujo trabalho respeito, porque conheço, e não me parece que possam estar de acordo com esta afirmação.
e os fotógrafos que tenho trazido à murtosa e torreira, para fotografarem a ria e a xávega, e aos quais tenho mostrado locais e explicado os métodos que utilizei durante anos para registar as belezas da nossa terra? acaso o sr. vice-presidente participou no workshop com o título “ fotografar a arte-xávega” promovido pela afavm e por mim orientado, onde comecei por dizer que não ia falar de fotografia, já que havia na assistência bem melhores fotógrafos do que eu, mas sim falar de xávega?
os que conhecem o meu trabalho, portugueses e estrangeiros, e me conhecem pessoalmente, sabem que o seu comentário não faz sentido, do princípio ao fim, mas isso não é problema meu.
lamento, meu caro, mas não lhe reconheço artes que lhe permitam ver o que vai no meu íntimo e por isso o deixo divagar devagar.
#elenão

queremos paz um mundo
limpo de fome e guerra
o fim de toda a agressão
#elenão
a tua mão na minha
não importa a cor
o sexo a religião
#elenão
a tua diferença
ser a nossa igualdade
o direito de ser
a nossa razão
#elenão
a queda das fronteiras
de todas as barreiras
o fim da solidão
#elenão
estejas onde estiveres
sejas quem fores
só conhecermos
a palavra irmão
#elenão
(torreira; corrida de chinchorros; 2012)
um barco

o corpo
o mar
o prazer
as ondas
um barco

(praia de mira; 2010)
(da memória)
bom dia dr. joaquim

joaquim namorado retratado por jaime do couto ferreira
cheguei a coimbra em setembro de 1973 e, não me lembro já porquê, fiz do tropical o meu café. ali se juntava a tertúlia de que joaquim namorado e orlando de carvalho – este por vezes de forma ensurdecedora – eram as figuras centrais.
jovem estudante, amante da leitura, ali passava as manhãs ou tardes livres a ler e, à tarde, a ouvi-los.
é no entanto depois do 25 de abril que começam as minhas conversas, fora da tertúlia, com joaquim namorado. conversas matinais entre um esquerdelho e um comunista ortodoxo.
até ao final da vida do poeta mantive com ele conversas animadas em que muito aprendi, lembro-me de lhe mostrar uns originais para colher a sua opinião, de caneta na mão lá foi riscando, cortando ….. (perdi essas folhas, como tenho perdido muita coisa na vida)
fomos amigos e isso é o mais importante. com a morte de joaquim namorado, para mim, morreu a praça da república e já pouco fui ao tropical.
setembro de 2018
no âmbito da exposição de jaime do couto ferreira e na sequência da edição do seu livro “O Herói no “Neo-realismo mágico” a editora lápis de memórias promoveu na casa da escrita, em coimbra, duas sessões sobre o poeta joaquim namorado.
neste registo reproduz-se a totalidade da sessão de 22 de setembro de 2018, em que antónio pedro pita fez uma “releitura” da obra do poeta e uma “visita guiada” à sua vida.
rui damasceno e josé antónio franco disseram poesia