
os moliceiros têm vela (278)

não há ciências exactas
rer
exacto o que vejo
exacto o que sinto
exactos estes dias
por onde arrasto o corpo
não há ciências exactas
exacto o momento
em que escrevo a dor
exacto o sorriso
no rosto da criança
exacto estar aqui ainda
exacta a lágrima
exactas estas palavras
toma-as e faz com elas
o exacto instante
em que tudo é possível
eu vou por aí
em busca de outro final
(armazéns de lavos; rer; 2017)
morreu hoje joaquim basílio, o “mendigo basilius” das feiras medievais.
quem o conheceu sabe da grandeza do homem e da valia do artista, as palavras são pequenas para homens como ele.
há certamente uma feira medieval à espera dele onde quer que esteja.
um abraço, amigo
(feira medieval de arzila; 2015)
da mãe e do filho
entre o filho da mãe
e a mãe do filho
é tudo uma questão
de gerações
se insulto o filho
é a mãe nele
no filho da mãe
(torreira; 2016)
a porta está aberta
nos braços a força
na vela a bandeira
na vontade o ainda
moliceiro sinto-o assim
branco e negro
belo em risco
à janela há
quem espreite
que entre
a porta está aberta
(torreira; s. paio; 2017)
depois de largar e alar
safar peixe se houver
há que safar e arrumar as redes
são muitas as horas
para tão pouco ganho
falo da solheira
eu sou
o meu tempo
é hoje
é ontem
o meu tempo
será amanhã
sem mim
eu sou no meu tempo
(torreira; porto de abrigo)
património nacional
passaram os anos
passaram os homens
manteve-se a rede
chamem-lhe xávega
arte-xávega também
mas que seja
património nacional
(torreira; 2016)
depois de largar e alar
safar peixe se houver
há que safar e arrumar as redes
são muitas as horas
para tão pouco ganho
falo da solheira
(torreira; junho; 2017)
dos sal e dos amigos
achegar
os amigos
digo
são o tempero dos dias
há-os porém
que de tão salgados
só fazem mal
(armazéns de lavos; 2017)